Memória

Documentos Sonoros | H. J. Koellreutter | 03 Concretion

Álbum: H.J.Koellreutter
Faixa: 1 (Lado B - LP)

Concretion (1960)

Orq. Sinfônica da Universidade Federal da Bahia
Reg. H. J. Koellreutter


O primeiro ensaio — desde essa época deixei de escrever "obras" para compor "ensaios" — que revela, de forma pronunciada, essa tendência é Concretion 1960, o primeiro ensaio de estruturação planimétrica. Por planimetria entende-se uma técnica de composição que organiza os signos musicais em planos multidirecionais, os signos de um idioma musical que renuncia à melodia e à harmonia, pontos fixos de referência, assim como dualidades dialeticamente opostas, ou seja: consonância e dissonância, tempos forte e fraco, primeiro e segundo tema etc.
A palavra Concretion (concreção) não se refere ao oposto à abstração ou a um processo qualquer de solidificação, mas sim às manifestações de uma consciência nova, que revelam um processo de o espiritual concrescer com um novo conceito de tempo (temporismo). Pois, somente quando o tempo deixar de ser percebido como dividido nas três fases de passado, presente e futuro, ele se torna concreto.
A forma de Concretion 1960 é monoestrutural e variável. Todos os módulos componentes foram extraídos de um só módulo fundamental e submetidos a um processo de transformação. É música sem início nem fim, por assim dizer, música cuja duração varia entre 8 e 20 minutos; música cujo início parece ocorrer por acaso e cujo fim acontece por interrupção — interrupção sancionada pelo som do tam-tam.
Concretion 1960, para oboé, clarinete, trompete, carrilhão, celeste, xilofone, vibrafone, piano e tam-tam, explora a sucessão e simultaneidade dos sons, sem recorrer aos princípios de contraponto e harmonia, sugerindo pontos, linhas e campos dentro de uma ordem preestabelecida de proporções. O som é silêncio e o silêncio é som, formando um todo ilimitado, que ultrapassa todas as maneiras de dependência mútua e relacionamento, mas que as possibilita a todos: um nada de conteúdos inesgotáveis. É que a música procura desafiar o ouvinte, no sentido de penetrar, cada vez mais, no espaço que se encontra atrás dos signos musicais. Assim como nas manifestações musicais dos nossos indígenas ou nas dos rituais dos negros iorubá, na Bahia (Candomblé), a intenção da música não é a de impressionar ou convencer pela beleza de formas definidas, melódicas ou harmônicas, mas é a de levar o ouvinte a perder o senso da forma...

(Texto de H. J. Koellreutter extraído do encarte do LP)


Edição da fita no Estúdio Tacape, SP, 28/02/1983
Matrizado na Tapecar, RJ, 04/03/1983
Montagem e supervisão de edição: Conrado Silva
Fotografia: Param Vir
Arte-final: Roberto Mainieri
Filmes de Polychrom, SP
Edições Tacape - São João del-Rei, MG, Brasil, 1983


Gravação digitalizada a partir do disco de vinil do Acervo Koellreutter por Marcos Filho em 2018 utilizando um Toca discos Audio-Technica AT-LP120 e softwares de restauro da Waves.

Documentos Sonoros e Audiovisuais | Acervo Koellreutter, 2019
Projeto Koellreutter 100 Anos: Música, ensino e memória
Apoio: Rumos Itaú Cultural
Entrar Créditos