Memória

Documentos Sonoros | H. J. Koellreutter | 04 Ácronon

Álbum: H.J.Koellreutter
Faixa: 2 (Lado B - LP)

Ácronon (1978-79)

Orquestra do Teatro Nacional de Brasília
Reg. H. J. Koellreutter
Solista Caio Pagano (piano)


Ácronon significa ser independente, livre de tempo medido, do tempo do relógio, do metrônomo e, portanto, em termos musicais, da métrica racional, da duração definida e determinada e do compasso. Acronon é uma tentativa de realizar música que ocorra no âmbito de um tempo qualitativo (tempo como forma de percepção!), pela ausência de referenciais fixos, pela relatividade das ocorrências musicais e pela trocabilidade — em princípio — dos signos musicais. Tempo, em Acronon, não é um processo real, uma sucessão efetiva de sons que o intérprete se limita a registrar, mas sim a vivência que resulta da relação de um determinado estado emocional com as diversas ocorrências musicais.
A forma da peça (ternária) é a do ten-chi-jin japonês, forma variável, assimétrica, de equilíbrio dinâmico, por assim dizer. A estrutura é serial, obedecendo aos princípios de uma estética relativista do impreciso (tendências substituem ocorrências definidas) e paradoxal (conceitos estéticos aparentemente contraditórios fundem-se), que delega aos intérpretes um alto grau de liberdade.
A estrutura da partitura de orquestra obedece à série: [imagem]
a da partitura do piano solista, à série: [imagem]
Esta série decorre da série original (orquestra) da mesma forma como a escala cromática decorre do círculo das quintas. Uma série de lapsos de tempo que separa a entrada de um instrumento da de outro, e uma outra apresentando uma ordem de valores de duração, que regulam o fluxo das ocorrências musicais.
A orquestra que acompanha o piano solista, consiste de 4-6 flautas (flautins), 4-6 oboés (cornos ingleses), 4-6 clarinetes (clarones), 4-6 fagotes (contrafagotes), 4-6 trompetes, 4-6 trombones, 1 tuba, 1 saxofone alto e percussão.
A forma de Acronon consiste num monólogo do pianista, acompanhado ou "comentado" por um tam-tam (1º movimento), pela orquestra (2º movimento) e por instrumentos solistas (3º movimento) sendo que planos de grande consistência sonora revezam com planos de textura, pontos e linhas.
No segundo e terceiro movimentos, uma esfera transparente permite ao pianista distinguir os signos musicais (ver a capa), através de sua espessura, e considerar, assim, no momento da seleção das unidades estruturais a serem tocadas por ele, o caráter complementar das mesmas. É que a diafaneidade da esfera torna presente ao solista o que, no pentagrama tradicional, era discurso do antes ao depois.
A partitura está planimetricamente estruturada — o "plano" da esfera, multidirecional e, praticamente, ilimitado, substitui as "vozes" da partitura tradicional — e compõe-se exclusivamente de pontos, linhas, campos e simultanóides (complexos sonoros cujos componentes não podem ser dispostos em terças sobrepostas). Ela é facilmente apreensível e transparente, quadridimensional, por assim dizer, se se considerar a sucessão de sons como a primeira, a simultaneidade dos mesmos como a segunda e a convergência deles (tonalidade) como e terceira dimensão da estrutura musical.

(Texto de H. J. Koellreutter extraído do encarte do LP)


Edição da fita no Estúdio Tacape, SP, 28/02/1983
Matrizado na Tapecar, RJ, 04/03/1983
Montagem e supervisão de edição: Conrado Silva
Fotografia: Param Vir
Arte-final: Roberto Mainieri
Filmes de Polychrom, SP
Edições Tacape - São João del-Rei, MG, Brasil, 1983


Gravação digitalizada a partir do disco de vinil do Acervo Koellreutter por Marcos Filho em 2018 utilizando um Toca discos Audio-Technica AT-LP120 e softwares de restauro da Waves.

Documentos Sonoros e Audiovisuais | Acervo Koellreutter, 2019
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